domingo, 16 de fevereiro de 2014

Palácio do Raio



Coordenadas GPS:
N 41º33'28' , W 8º28'43''

Rua do Raio 
4700-920 Braga

O Palácio do Raio, também referido como Casa do Mexicano localiza-se na freguesia de São José de São Lázaro, cidade e concelho de Braga, distrito de mesmo nome, em Portugal. É um dos mais notáveis edifícios de arquitectura civil da cidade, em estilo barroco joanino.

O Palácio do Raio deve a sua designação a um dos proprietários - Miguel José Raio, Visconde de São Lázaro -, que adquiriu este imóvel em 1867 (PASSOS, 1954, p. 85). No entanto, a sua edificação é bem anterior, remontando aos anos de 1754-1755. Nesta época, um poderoso comerciante de Braga, João Duarte de Faria, deverá ter encomendado a traça do solar a André Soares, o arquitecto (que desenvolveu actividade noutras áreas, como a talha) oriundo de Braga, que foi um dos expoentes máximos do desenvolvimento da cidade dos Cardeais, no decorrer da segunda metade do século XVIII. Ao reformular um estilo já introduzido no Porto por Nasoni, Soares baseou-se na interpretação de gravuras franco-alemãs, construindo "(...) umas das expressões mais distintas e poderosas do rococó europeu" (SMITH, 1973, p. 496). A sua obra caracteriza-se pela monumentalidade, pela plasticidade das formas, e pelo emprego de uma gramática decorativa naturalista, muito característica, de concheados, jarros, grinaldas e festões (SMITH, 1968, p. 305) (que denuncia a influência das gravuras de Augsburgo ou do francês Meissonier, entre outros). No contexto da arte portuguesa, André Soares enquadra-se entre o final do barroco e o início do rococó, situação que se reflecte nas suas arquitecturas, onde a estrutura é barroca mas a decoração rococó (PEREIRA, 1989, p. 456). 

Assim, e embora não subsista documentação relativa a esta obra, parece consensual a sua atribuição a André Soares. Este, havia trabalhado anteriormente no Santuário do Bom Jesus e na igreja de Santa Maria Madalena da Falperra, sendo que a Casa do Raio pode ser entendida enquanto prolongamento do "carácter festivo da Falperra" (SMITH, 1973, p. 502). 


Considerada como uma das mais importantes obras deste artista, a Casa do Raio apresenta uma fachada profusamente decorada, em que a simetria geral contrasta com as assimetrias introduzidas pelos frontões das janelas (FERNANDES, 1989, p. 456). 


Neste alçado, assume particular relevância a secção central, à semelhança do modelo utilizado quer na igreja da Falperra, quer na Câmara Municipal, ambas coevas do Palácio do Raio. A janela que se sobrepõe ao portal liga-se a um frontão curvo, que lembra o da igreja de Santa Maria Madalena, mas aqui a decoração é projectada, destacando-se fortemente da restante fachada (SMITH, 1973, p. 503). Os azulejos que a revestem foram uma incorporação já do século XIX. 



Vítor Serrão refere, ainda, que é através do "sensual e poderoso sentido de des-construção das aberturas que "quase anuncia a arte de um Gaudí "(WOHL, 1993) , que o edifício se impõe em novidade e aparato, numa pujança sensual de ritmações rocaille que se prolonga à bem lançada escadaria nobre, ornada pelo singular turco como exótica figura de convite" (SERRÃO, 2003, p. 272). 


No interior, destaca-se a referida escadaria, com três arcos e a escultura do turco, obra comparável às quatro estátuas da esplanada da igreja do Bom Jesus, cuja concepção Smith atribuí a André Soares, e a execução aos pedreiros José e António de Sousa (SMITH, 1973, p. 505). No patamar, os azulejos que retratam cenas galantes devem ter sido executados por Bartolomeu Antunes, sendo curioso verificar as diferentes interpretações do rocaille - uma mais tradicionalista, oriunda de uma oficina de Lisboa e outra em que predomina a agitação característica do norte do país, nomeadamente de Braga (SMITH, 1973, p. 504). 

 

















Texto: Igespar
Fotos: Igespar /Wikipédia /BragaOn

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